Homem Tupperware
Tupperware é um recipiente utilizado para guardar coisas, geralmente guardo comida. Esta, por sua vez, é esquecida e apodrece. Joga-se fora a comida estragada, lava-se o recipiente e o processo se repete interminavelmente. É isso que penso do Homem contemporâneo.
Sou um recipiente: meu corpo. Guardo coisas dentro dele: memórias, vontades, histórias, marcas, desejos. Preencho os meus espaços vazios e depois de um tempo, jogo fora. Há coisas que apodrecem em mim que, aos poucos, descarto.
Essa operação de preenchimento nunca finaliza porque a realização (contentamento) nunca acontece.
Tenho necessidade de coisas. Algo compreensível nos tempos atuais. Não apenas coisas materiais, mas também necessito de sentimentos (?), referências (?) para indicar possíveis caminhos.
Ansiedade. Esses espaços vazios que sou (meu corpo) geram ansiedade. Preciso preenchê-los. Com o quê? Qualquer coisa que me satisfaça momentaneamente. Porque é sempre momentâneo. Lembrando que sou um tupperware, as coisas que me preenchem depois de um tempo apodrecem e preciso descartá-las. Por isso é momentâneo.
Esse vazio que sou (meu corpo) e conseqüente preenchimento e esvaziamento faz com que não saiba ao certo o quê/quem sou, pois me transformo no que me preenche momentaneamente.
O tempo da sociedade (acelerado, veloz, urgente) era externo a mim mas acabou contaminando-me. Hoje sou acelerado, veloz, urgente. Homem-corpo-capitalista.
Ansiedade. “Não me reconheço mais”, se é que um dia soube quem eu era... Mutante. Constante transformação. Homem Tupperware que se preenche de coisas que apodrecem, depois são jogadas fora para novamente se preencher em um processo que se repete interminavelmente.
- Quem sou eu?
Desculpe mas não tenho tempo para isso.
Rafael Di Lari
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