terça-feira, 28 de setembro de 2010

SOMOS A CIDADE


Por: Darlei Fernandes

Quando ouvimos a palavra “Édipo” automaticamente uma sucessão de imagens vêm à cabeça: Incesto, assassinato, olhos vazados, peste, Grécia, Freud, etc. Passamos por todas elas! Mas ao invés de debruçarmos-nos sobre estas imagens, abrimos o mito e nos jogamos no emaranhado de linhas e caminhos que ele nos conduziu. Descobrimos que Édipo não é Édipo, e sim Oidípous, o claudicante, louco, subversivo; depois descobrimos que Oidípous não é Oidípous e sim, Οδίπους, o individuo... Como nós!!! Então para que criarmos Édipo, uma máscara, uma farsa, uma personagem? Na abertura do mito de Édipo fomos obrigados a abrir nossos próprios mitos. Se jogar nas lembranças de nossos desejos infantis, secretos, abjetos; nossa adolescência monstruosa e prazerosa; o adulto egoísta e compreensível pelo próprio egoísmo. Somos enfim, Οδίπους tentando ser Oidípous para chegar a ser Édipo. Não um mito atemporal (a atemporalidade não me interessa, pois vivo num tempo determinado), mas passar do indivíduo para conseguir chegar ao coletivo.

É um processo psicológico, sim! Reunião de Grupo. Ajuda de grupo... Neste processo me sentia um psicopata potencial, um esquizofrênico enjaulado, um histérico depressivo, etc.

Como chegar ao coletivo?

Façamos arte!!!!

(ou a internação na casa de repouso, sanatório mesmo, do Bom Retiro).

Da mesma forma que abrimos o mito de Édipo tivemos que abrir o espaço. A cidade é algo que não se comporta com um simples olhar. Quando pensamos na palavra “cidade” automaticamente uma sucessão de imagens vem à cabeça: prédios, carros, buzinas, alarmes, out-doores, gente, muita gente. Isto não é a cidade, apenas faz parte dela. A cidade é um organismo vivo, complexo, ilimitado (nem as fronteiras a limitam), um fluxo de conexões infinitas. Para inserimos-nos nela tivemos que aprender a olhar o invisível. Ele está ali, o invisível, atrás dos símbolos, imagens, ícones que escondem a cidade. O que vemos cotidianamente, quando saímos de casa e vamos para nossos trabalhos, escolas, faculdades, etc. é a representação da cidade, sua maquiagem, máscara, farsa, personagem. Ao inserirmos um evento artístico cênico no espaço urbano, estamos retirando esta máscara espetacular da cidade para lhe devolver a sua realidade numa cesura, num rompimento que traz a cidade nua aos olhos do público, dos transeuntes, de nós mesmos.

Em “Οδίπους: Prologos” dilaceramos Édipo para ele ser apenas Οδίπους. Violentamos nossas identidades para sermos nós mesmos. Depredamos a cidade para ele surgir do invisível. É a potência de Édipo, mais a nossa potência na potência da cidade. Potência + Potência + Potência. Mito, indivíduo e espaço.

Assim abandonamos o manicômio para criar uma obra cênica. Assim deixamos de ser apenas indivíduos para sermos artistas. Assim deixamos de ser transeuntes para sermos a cidade. Assim... Apresentamos Οδίπους: Prologos!!!!!!!!!!!!!

domingo, 19 de setembro de 2010

Diário: 11/09

Crédito: M&A Fotografia

O trabalho começa a ganhar uma forma, um contorno, uma estrutura, ainda que momentânea. Isso se deu, a meu ver, pela afirmação do discurso individual (cada ator), do grupo e consequente fornecimento de material do elenco.

É uma troca entre o grupo. Direção e elenco. Tenho a impressão que a neblina se dissipou (!). Agora que muitas coisas clarearam, o momento é de dar forma às vontades, materializar as idéias.

Surge um jogo. Um jogo teatral. Individual e Coletivo. Identidade e Subjetividade. Verdadeiro e Falso. Mito.

Algo que problematizo(amos): como a queda acontece? O que leva à queda do corpo? Como o jogo se dá? Com qual energia, em que nível, limite? Como contradizer o jogo?


Rafa Di Lari

sábado, 18 de setembro de 2010

UMA ANOTAÇÃO... diário 03

DE: PATRICIA CIPRIANO


Agora me sinto no espaço. Digo isso pelo fato de que agora eu noto que entre mim e ele há um pulsar.
A cidade nos nota e a gente (a)nota a cidade.
O simples gesto de desenhar os contornos da paisagem aproxima a arquitetura do nosso olhar e permite a visualização daquilo que existe e que não se nota, não por não ser importante, mas por parecer cenário das nossas vidas e só.
Gosto do apontamento. Gosto de ver as pessoas percebendo que existem planos e que as coisas são tridimencionais. É incrivel mas a gente esquece a todo momento que a cidade existe além da fronteira do olhar. Que ela é pulsante e influencia, sim, o meu estar aqui e agora.

Gosto de pensar o processo assim:
O que existe além do limite? Além de Édipo?
O que me torna um ser sem identidade? (o que não significa sem subjetividade)
E onde a minha subjetividade encontra a do outro? O momento, que ao meu ver, é o da identificação e troca.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Diário: 04/09

Homem Tupperware

Tupperware é um recipiente utilizado para guardar coisas, geralmente guardo comida. Esta, por sua vez, é esquecida e apodrece. Joga-se fora a comida estragada, lava-se o recipiente e o processo se repete interminavelmente. É isso que penso do Homem contemporâneo.
Sou um recipiente: meu corpo. Guardo coisas dentro dele: memórias, vontades, histórias, marcas, desejos. Preencho os meus espaços vazios e depois de um tempo, jogo fora. Há coisas que apodrecem em mim que, aos poucos, descarto.
Essa operação de preenchimento nunca finaliza porque a realização (contentamento) nunca acontece.
Tenho necessidade de coisas. Algo compreensível nos tempos atuais. Não apenas coisas materiais, mas também necessito de sentimentos (?), referências (?) para indicar possíveis caminhos.
Ansiedade. Esses espaços vazios que sou (meu corpo) geram ansiedade. Preciso preenchê-los. Com o quê? Qualquer coisa que me satisfaça momentaneamente. Porque é sempre momentâneo. Lembrando que sou um tupperware, as coisas que me preenchem depois de um tempo apodrecem e preciso descartá-las. Por isso é momentâneo.
Esse vazio que sou (meu corpo) e conseqüente preenchimento e esvaziamento faz com que não saiba ao certo o quê/quem sou, pois me transformo no que me preenche momentaneamente.
O tempo da sociedade (acelerado, veloz, urgente) era externo a mim mas acabou contaminando-me. Hoje sou acelerado, veloz, urgente. Homem-corpo-capitalista.
Ansiedade. “Não me reconheço mais”, se é que um dia soube quem eu era... Mutante. Constante transformação. Homem Tupperware que se preenche de coisas que apodrecem, depois são jogadas fora para novamente se preencher em um processo que se repete interminavelmente.
- Quem sou eu?
Desculpe mas não tenho tempo para isso.

Rafael Di Lari

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Diário: 03 de Agosto

PONTO DE VISTA

Oferecer uma visão mais abrangente, uma paisagem ao invés de símbolos e representações. Um ponto onde o outro (seja quem ou o que ele for) tenha a possibilidade de experimentar a cidade como um lugar real de comunicação e vivência, não apenas um suporte a uma arquitetura espetacular.

Oidípus antes de qualquer coisa é isso, um ponto de vista a uma perspectiva abrangente da cidade como experimentação.

Darlei Fernandes

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Diário SUBJÉTIL 003 - 28 de Agosto de 2010

(Fotos por Amanda Nenis (M&A Fotoghrafia)












Diário SUBJÉTIL 002: ...07 a 13 de Agosto de 2010







Uma preguiça de ensaiar me assola...mas é chegar no espaço, começar os trabalhos e tudo se potencializa .
(Darlei Fernandes)




Não sei o que está acontecendo, mas está acontecendo! Eu sei...
Penso muito em ritmo, intimidade e ironia.
(Patricia Cipriano)



Enquanto fumo o meu cigarro matinal, penso no quê escrever neste diário-relatório-esboço-de-pensamentos.
Chego à conclusão óbvia de que a melhor forma de começar é escrevendo!
É tão óbvia que não chega a ser clara.

(Rafael Di Lari)


Estamos todos juntos: Eu, Lucas, Patricia, Rafa as fotografas Máh e Amanda (só falta a Vida). A idéia é percorrer a praça, descobrir o que os signos escondem, o que há por trás de cada representação...
PAISAGEM URNANA - È tão difícil de percebe-la!!!!
(Darlei Fernandes)