Por: Darlei Fernandes
Quando ouvimos a palavra “Édipo” automaticamente uma sucessão de imagens vêm à cabeça: Incesto, assassinato, olhos vazados, peste, Grécia, Freud, etc. Passamos por todas elas! Mas ao invés de debruçarmos-nos sobre estas imagens, abrimos o mito e nos jogamos no emaranhado de linhas e caminhos que ele nos conduziu. Descobrimos que Édipo não é Édipo, e sim Oidípous, o claudicante, louco, subversivo; depois descobrimos que Oidípous não é Oidípous e sim, Οἰδίπους, o individuo... Como nós!!! Então para que criarmos Édipo, uma máscara, uma farsa, uma personagem? Na abertura do mito de Édipo fomos obrigados a abrir nossos próprios mitos. Se jogar nas lembranças de nossos desejos infantis, secretos, abjetos; nossa adolescência monstruosa e prazerosa; o adulto egoísta e compreensível pelo próprio egoísmo. Somos enfim, Οἰδίπους tentando ser Oidípous para chegar a ser Édipo. Não um mito atemporal (a atemporalidade não me interessa, pois vivo num tempo determinado), mas passar do indivíduo para conseguir chegar ao coletivo.
É um processo psicológico, sim! Reunião de Grupo. Ajuda de grupo... Neste processo me sentia um psicopata potencial, um esquizofrênico enjaulado, um histérico depressivo, etc.
Como chegar ao coletivo?
Façamos arte!!!!
(ou a internação na casa de repouso, sanatório mesmo, do Bom Retiro).
Da mesma forma que abrimos o mito de Édipo tivemos que abrir o espaço. A cidade é algo que não se comporta com um simples olhar. Quando pensamos na palavra “cidade” automaticamente uma sucessão de imagens vem à cabeça: prédios, carros, buzinas, alarmes, out-doores, gente, muita gente. Isto não é a cidade, apenas faz parte dela. A cidade é um organismo vivo, complexo, ilimitado (nem as fronteiras a limitam), um fluxo de conexões infinitas. Para inserimos-nos nela tivemos que aprender a olhar o invisível. Ele está ali, o invisível, atrás dos símbolos, imagens, ícones que escondem a cidade. O que vemos cotidianamente, quando saímos de casa e vamos para nossos trabalhos, escolas, faculdades, etc. é a representação da cidade, sua maquiagem, máscara, farsa, personagem. Ao inserirmos um evento artístico cênico no espaço urbano, estamos retirando esta máscara espetacular da cidade para lhe devolver a sua realidade numa cesura, num rompimento que traz a cidade nua aos olhos do público, dos transeuntes, de nós mesmos.
Em “Οἰδίπους: Prologos” dilaceramos Édipo para ele ser apenas Οἰδίπους. Violentamos nossas identidades para sermos nós mesmos. Depredamos a cidade para ele surgir do invisível. É a potência de Édipo, mais a nossa potência na potência da cidade. Potência + Potência + Potência. Mito, indivíduo e espaço.
Assim abandonamos o manicômio para criar uma obra cênica. Assim deixamos de ser apenas indivíduos para sermos artistas. Assim deixamos de ser transeuntes para sermos a cidade. Assim... Apresentamos Οἰδίπους: Prologos!!!!!!!!!!!!!